Quem já é regular nas minhas redes sociais conhece o meu amor por Afonso Cruz. Penso que, por esta altura, já ultrapassou José Saramago enquanto autor português favorito. Muitas pessoas querem começar a ler a obra de Afonso Cruz e perguntam-me qual livro devem ler primeiro. A verdade é que tenho muita dificuldade em classificar os livros dele, em dizer qual o melhor e qual o pior. Por essa razão, resolvi publicar a lista dos meus livros favoritos de Afonso Cruz. Espero que, com a minha opinião, consigam escolher o vosso primeiro volume. Se forem como eu, garanto-vos uma viagem única, como não há igual.
1. Os Livros que Devoraram o Meu Pai (2010), Ed. Caminho
Este foi o segundo livro que li dele. É muito pequeno, com cerca de 128 páginas. Pode ser considerado um livro juvenil, mas a sua mensagem é facilmente adaptada para adultos. Essa característica, aliás, pode ser encontrada noutras obras dele, como em Paz Traz Paz* (2019, Companhia das Letras).
Costumo recomendar este livro para quem quer começar a ler Afonso Cruz porque encantou o meu coração de livrólica. Fala sobre um menino, Elias Bonfim, que procura o pai depois de este ter desaparecido deste mundo enquanto lia. Filho procura pai nos clássicos da literatura que encontra no sótão da avó. No fundo, é uma história de amor aos livros, vista através dos olhos da família Bonfim. Gostei tanto deste livro que o tenho praticamente todo sublinhado. Só lamento ser tão pequeno.
2. Para onde vão os guarda-chuvas (2013), Ed. Companhia de Letras
Se não me falha a memória, este foi o terceiro livro que li do autor. A maioria dos leitores fica assustada com o seu tamanho – 624 páginas. Por essa razão, gosto de recomendar primeiro as suas obras mais pequenas. Para onde vão os guarda-chuvas é, contudo, o grande romance de Afonso Cruz. Após nos termos apaixonado pela sua escrita em livros anteriores, garanto que estas 600 páginas vos vão saber a pouco. Porque estamos sempre à procura de mais.
Numa viagem até ao Ocidente, a narrativa apresenta-nos uma mãe que acaba por abandonar o marido e o filho. Fazal, um fabricante de tapetes, enfrenta esta perda lado a lado com o filho. Paralelamente, lida com as dificuldades do seu negócio. Nesta história somos obrigados a encarar temas como a religião, o luto do abandono, o luto da morte, a força dos nossos sonhos. É um livro de várias camadas que vale a pena descobrir.
3. O Pintor debaixo do Lava-Loiças (2011), Ed. Caminho
Acho que li este livro em duas tardes, mas facilmente conseguiria ler em apenas uma. São 176 páginas deliciosas, acompanhadas de ilustrações feitas por Afonso Cruz. Gosto muito da junção entre a arte e a literatura na mesma obra (foi algo que, para mim, acrescentou imenso aos livros de Rupi Kaur). Este foi o último que li do autor e uma das minhas últimas leituras de abril. É delicioso e fala sobre um tema com que estamos familiarizados.
O livro fala sobre um pintor eslovaco que nasceu no final do século XIXI e que emigrou para os Estados Unidos da América. Quando regressou ao seu país, teve de fugir por causa do nazismo… E acabou em Portugal. A história é baseada em factos reais que aconteceram aos avós do autor, e mais não conto. Apenas acrescentar que é um tema muito atual, abordando o poder da liberdade e a ausência dela.
4. Vamos comprar um Poeta (2016), Ed. Caminho
Comprei este livro assim que saiu. Não só achei a capa fenomenal, como o conceito cativou-me. Ofereci-o à minha prima norte-americana, quando me visitou nesse ano, para que ela soubesse o que é literatura portuguesa como deve ser. É outro livro que pode ser considerado juvenil. Pela sua leitura fácil, pareceu-me perfeito para uma filha de emigrantes com pouco contacto com a nossa língua.
Numa sociedade imaginada, o materialismo controla a vida dos seus habitantes. Em vez de se dizer “não me chateies a cabeça”, diz-se “não me arrombes a carteira”. As pessoas são números, sem nomes, e as famílias têm artistas em vez de animais de estimação. Pintores, arquitectos… E poetas. A protagonista da história escolheu um poeta para a sua família. Graças a ele, a sua vida e a da sua família enche-se de metáforas, para nunca mais ser igual.
5. Jesus Cristo Bebia Cerveja (2012), Ed. Alfaguara
O primeiro livro que li encontra-se, curiosamente, no fim da lista. Não por qualquer razão em especial, mas porque o descobri numa aula de Literatura Contemporânea e Artes, na universidade. Há sempre alguma contradição com certas obras que nos são ensinadas, e penso que esta foi uma delas. No entanto, este livro é o único que tenho autografado por Afonso Cruz. ? O autor foi dar uma palestra na Universidade de Évora, a convite da nossa professora, e lá vai a Sónia pedir um autógrafo. Na altura, nem sabia o impacto que a escrita dele iria ter na minha vida.
Uma pequena aldeia alentejana transforma-se em Jerusalém graças ao amor de uma rapariga pela sua avó, cujo maior desejo é visitar a Terra Santa. Um professor paralelo a si mesmo, uma inglesa que dorme dentro de uma baleia, uma rapariga que lê westerns e crê que a sua mãe foi substituída pela própria Virgem Maria, são algumas das personagens que compõem uma história comovente e irónica sobre a capacidade de transformação do ser humano e sobre as coisas fundamentais da vida: o amor, o sacrifício, e a cerveja.
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Ainda me falta muito até conseguir ler tudo aquilo que Afonso Cruz tem para nos oferecer. O meu objetivo é fazer um pequeno altar (de uma forma nada assustadora, ahem) com todas as obras dele. Já vou num bom caminho! Neste momento, tenho nove livros e faltam-me ler dois. Depois compro mais, claro. ? Se já leram alguma obra de Afonso Cruz, qual é o vosso favorito?
Já li «Os livros que devoraram o meu pai», «Flores» e «O pintor debaixo do lava-loiças» que foi, sem dúvida, o meu preferido. Tenho muita curiosidade com o «Para onde vão os guarda-chuvas» 🙂
Também tenho “Flores” na minha estante. Será certamente a próxima leitura, ainda não tenho coragem de me aventurar a ler “Jalan Jalan” ?
A escrita de Afonso Cruz é mesmo especial! Fiquei completamente rendida *-*
Adoro Os Livros que Devoraram o Meu Pai e O Pinto Debaixo do Lava-Loiças. E tenho imensa curiosidade em relação ao Para Onde Vão os Guarda-Chuvas
O maior sucesso para este novo projeto <3
Muito obrigada, querida Andreia! ❤️ E se já estás rendida à escrita de Afonso Cruz, acredita que vais adorar “Para onde vão os guarda-chuvas”. É um livro magistral ?